FERNANDO CORILOW

Um olhar para a juventude e a tecnologia no Agro brasileiro

No dia 26 de outubro, aconteceu a edição de 2022 do Youth Agribusiness Movement International (YAMI 2022), o maior congresso de jovens do Agro na América Latina. Neste ano, o tema escolhido foi “O agro do mundo para a juventude do Brasil”. O foco, portanto, foi apresentar aos jovens brasileiros as diversas culturas e todas as relações possíveis de serem desenvolvidas no Agro de hoje e do futuro – tanto no campo das cooperações científicas, tecnológicas ou startups quanto no campo do comércio, agroindústria, venda e acesso aos mercados internacionais.

“A juventude 5.0 no agro do futuro” foi o tema da mesa redonda de abertura do evento. Nesta conversa inicial, estiveram presentes, no painel moderado pela gerente de infraestrutura e sustentabilidade na diretoria de governança e gestão da Embrapa, Petula Nascimento, o Presidente da Yoshida & Hirata e Diretor Conselheiro da Andav, Alberto Yoshida; o Gerente de Inovação Aberta da Divisão Agrícola da Bayer no Brasil, André Koji Fukugauti; e a Diretora de Inovação no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Sibelle de Andrade Silva.

Ao longo do debate, os três especialistas e o público presente puderam debater os potenciais da agricultura 5.0, a mais nova fase das tecnologias aplicadas no campo, marcada por um grande avanço no processamento de dados na lavoura e na automação dos modelos de produção. Um assunto de extrema importância para o Agro e que está intimamente ligado à juventude, foco do evento, já que “o jovem tem um papel fundamental nesse novo momento, pois está mais familiarizado e inserido no mundo digital, oferecendo um novo olhar aos processos”, como aponta Carolina Gama, a show manager do congresso.

Colaboração e capacitação

Em sua fala, Sibelle destacou as iniciativas do Mapa para criar redes de conexão para tratar de temas como inovação e digitalização no Agro. A diretora ainda reforçou a necessidade de um diálogo entre a esfera pública e privada, envolvendo também a juventude que ingressa no mercado, para criar uma “cooperação permanente no sentido de nos integrarmos cada vez mais com as tecnologias digitais”.

André, por sua vez, ressaltou os desafios tecnológicos com os quais o Agronegócio brasileiro ainda convive. Trazendo, por exemplo, o dado de que 3,5 milhões de propriedades no Brasil ainda não tem acesso à internet, segundo números do Senai. “Temos um grande desafio para que a capacitação aconteça no campo, chegando ao dia a dia dos que estão operando no Agronegócio. Essa é a base da pirâmide. E há uma ótima oportunidade para os jovens serem agentes transformadores nesse sentido, levando toda essa tecnologia à implementação efetiva”, comentou o gerente.

Alberto Yoshida, quando perguntado sobre aproveitar inovações como a gamificação e o metaverso para ajudar a fixar a juventude no campo, seguiu a mesma linha de raciocínio. “A gamificação já é usada hoje como metodologias para agilizarmos o processo de educação. Mas eu vivo no mundo das startups, e ainda tenho a percepção de que precisamos simplificar a comunicação neste universo. A comunicação é um ponto superimportante para sermos mais assertivos em nossas propostas de inovação junto aos produtores”, revelou.

Neste sentido, Sibelle ressaltou que os fomentadores de políticas públicas precisam dar um passo para trás para depois avançar outros passos à frente. “Se pensarmos na cobertura territorial da Internet no campo, temos uma lacuna maior do que 70% em área. É uma lacuna enorme de falta de conectividade no campo, e precisamos de políticas públicas para melhorar isso. No Agro, existe um tripé que é muito importante na mente dos produtores rurais e da sociedade: Segurança Alimentar, Energia e Clima. E as ferramentas digitais vão ser fundamentais pra tangibilizar e mostrar esse Agro sustentável para o Brasil e para o mundo. Esse é nosso papel no MAPA: trazer um olhar abrangente que envolva as inovações, mas que também democratize o acesso, o que exige um esforço conjunto de todos nós, como agentes do Agronegócio”.

Oportunidades para os jovens

Dentro deste cenário, quais são os principais desafios e oportunidades para a juventude que ingressa no mercado do Agro? Sibelle citou, por exemplo, as iniciativas de conectar startups com produtores, como o Agro Hub Brasil. “As startups precisam estar preparadas para se inserirem na ambiência do produtor rural. Por isso, queremos criar portais como esse e promover cada vez mais essas chamadas para aproximar as novas empresas da dor do produtor rural”, comentou a diretora.

Neste âmbito, André trouxe um dado bastante interessante: atualmente, a cada emprego gerado no Agronegócio digital, outras cinco vagas são geradas ao seu redor, ligadas a temas como tecnologia, prestação de serviços e até saúde. “A ciência de dados é um mar aberto. Faltam profissionais hoje, e a demanda futura também tende a aumentar.”

Alberto completou a fala do gerente ao comentar sobre a necessidade da entrada, nos próximos anos, de muita tecnologia e novos profissionais em diversos segmentos do Agro. “Na própria gestão da propriedade rural, vamos precisar de muita gente. Temos o aspecto da rastreabilidade, e isso envolve gigantes tecnologias e processos. Mais do que nunca, precisamos treinar as pessoas para isso. Há o crescimento dos Marketplaces, Omnichannels e e-Commerce, e com isso vamos precisar de muitos profissionais. Existem também desafios de comunicação, de criar inteligência para expressar tudo que o Agro brasileiro faz de bem para o nosso país e para o mundo. Ou seja, os campos de exploração do Agronegócio no Brasil não se resumem à propriedade rural. E só vamos evoluir se a tecnologia e profissionais multidisciplinares estiverem do nosso lado”, concluiu o Diretor Conselheiro da Andav.